PARA quem desejar conhecer Cabanas, aqui deixo algumas dicas do percurso que deve tomar e o que poderá encontrar.
Cabanas situa-se na metade oriental do Algarve, também conhecida por Sotavento. Para aqui chegar, para quem é oriundo de Lisboa ou do Barlavento algarvio, deve tomar a IP1 - que no Algarve é a Via do Infante - como quem vai em direcção a Espanha. Tomada a IP1, ao chegar ao nó de Tavira, sai da via rápida, tomando a direcção da cidade, mas quando chegar ao cruzamento seguinte, onde se encontra uma rotunda, vira à esquerda para a EN125 como quem vai em direcção a Vila Real de Santo António. Passa então pela ponte sobre o Rio Gilão, donde se desfruta um espectacular panorama sobre o vale deste Rio, assim como a cidade. São inúmeros os cruzamentos da EN125 com estradas secundárias, permitindo inúmeras formas de entrar na cidade, aparecendo alguns deles sob a forma de rotundas, como é o caso da rotunda da Porta Nova e a de Vale Caranguejo, sendo esta a última.
Passada esta rotunda, tomamos definitivamente o percurso sem mais "obstáculos" em direcção a Cabanas. Ainda antes, atravessamos mais uma ponte, esta sobre a ribeira do Almargem, que também dispõe de um longo e amplo vale, muito provavelmente o resto de um antigo estuário. As primeiras casas que aparecerão logo à direita após a lomba que se segue pertencem à aldeia da Conceição. Aqui deparamos com uma rotunda acabada de ser construída recentemente, cuja placa central se encontra decorada fazendo menção ao campo de golfe Benamur que se encontra à esquerda. É aqui que saímos da EN, e tomamos o acesso da direita na direcção de Conceição. Pode-se ver então numa das placas o nome "Cabanas" - indicada como sendo uma praia, não uma aldeia.Seguimos em frente. Estamos numa descida, onde se vislumbra uma rotunda lá em baixo. Ainda antes de a atingir, é possível observar à esquerda a Igreja dedicada a Nossa Senhora da Conceição, construída durante o século XVI, e que ostenta na fachada o escudo da ordem de Santiago de Espada, antiga ordem de monges guerreiros principal responsável pela conquista definitiva do Algarve aos mouros.
Passada a rotunda, passa-se a linha do caminho do ferro, com a estação (agora encerrada) à direita. A ribeira da Conceição, que nos acompanha à esquerda, arremete por debaixo da estrada, vendo-se também uma estrada com escasso alcatrão à direita - é a continuação do antigo caminho da Canada, que era a antiga via principal de entrada em Cabanas. Atingimos então uma lomba, encontrando-se a Quinta da Nora Branca à esquerda.
Após uma curva, imediatamente, temos finalmente a aldeia à vista com o mar ao longe perfeitamente ao alcance da nossa visão. É visível à esquerda uma placa onde está escrito "Praia de Cabanas" e "Urbanização do Monte Novo". No entanto, não vamos seguir esta direcção, mas sim em frente, como se fôssemos descendo em direcção ao mar. Á direita temos o aldeamento turístico mais antigo de Cabanas, as Pedras da Rainha, também a de melhor estatuto de todas as unidades turísticas da aldeia.
Eis-nos então chegados finalmente a Cabanas. Neste ponto temos à nossa direita a entrada nas Pedras da Rainha e à nossa esquerda os bairros sociais, construídos pouco tempo após o 25 de Abril de 1974, para albergar principalmente famílias de pescadores que não possuíam habitação própria assim como muitos retornados das ex-colónias.
Prosseguimos em frente e chegamos finalmente ao ponto aonde tem início a povoação propriamente dita. Com um pouco de atenção, do lado direito, pode-se descobrir a actual sede provisória da jovem Junta de Freguesia de Cabanas, ao fundo dum corredor que percorre o espaço entre duas lojas. Estamos na rua principal de acesso à aldeia e são bem visíveis bastantes restaurantes, assim como cafés, de ambos os lados. A rua onde estamos vai desembocar à avenida marginal, que tem o nome de Ria Formosa. Temos então de tomar uma decisão sobre qual a direcção que havemos de tomar. Vamos optar pela esquerda, se o nosso interesse é o sol e a praia. De qualquer forma, quem dirigir-se pela direita, toma a direcção do Golden Club, encontrando também o "porto de Cabanas" - o local aonde a maior parte das traineiras de pesca estão fundeadas e onde os pescadores deixam as artes de pesca.
Para quem, portanto, decidir "ir a banhos", deve seguir em frente, ao longo da marginal até encontrar uma curva, lá ao fundo. Antigamente, há cerca de 20 anos, eram inúmeras as casas da marginal que ostentavam a tradicional fachada algarvia. Actualmente, já são muito poucas aquelas onde este modelo arquitectónico sobrevive, encontrando-se principalmente nas ruas centrais da aldeia. Também na marginal é bem visível à direita o paredão que foi construído há cerca de 40 anos, quando a então barra do Cochicho (agora já bastante distanciada, encontrando-se actualmente mais próximo do lugar do Lacém, próximo de Cacela) ameaçou seriamente as habitações.
Vencida a curva, eis-nos chegados ao parque de estacionamento. Se for no mês de Agosto, vai ser extremamente difícil encontrar um lugar, por este ser o mês habitualmente de maior ocupação turística, e, por outro lado e sobretudo, o parque não oferecer condições.
O transporte para a praia é assegurado por pescadores nas suas próprias embarcações equipadas com motor, que actualmente cobram cerca de 50 cêntimos, pagando-se separadamente a ida e a volta. Se por qualquer motivo, não desejar ir com os pescadores, sempre dispõe dos barcos das Pedras da Rainha, que se encontram mais à frente - na zona assinalada pelas bandeiras, e que dispõem de um cais amovível - pelas quais se paga um valor idêntico.
Até 1999, era possível a deslocação à praia a pé durante a baixa-mar, quando a ria se encontrava bastante assoreada. Depois, a pedido dos pescadores, o canal foi dragado, e desde então nunca mais tal foi possível.
A praia de Cabanas, situada na ilha do mesmo nome, possui três postos de vigilância permanentes, assim como balneários e um posto de socorro, na eventualidade de ocorrência de algum acidente. Existem apoios de praia, em número de dois. Há palhotas e outras formas de passar ao Sol.
A ilha de Cabanas tem cerca de 7 km de extensão por cerca de 70 m de largura e é possível o passeio até às extremidades, onde tem o seu término, devido às barras. Para leste encontramos a barra do Lacém ou de Cacela, antigamente a barra do Cochicho; para oeste fica a barra de Tavira, aberta pela mão do Homem.
Desde 1988 que vem sendo atribuído sucessivamente o símbolo da bandeira azul, prova do reconhecimento da sua qualidade, pelo cumprimento das normas estipuladas pela União Europeia.
No "lado de cá", continuando o nosso caminho em frente, chegamos a um ponto onde termina o alcatrão, encontrando-se também o acesso vedado por grandes por grandes blocos de pedra. Mais lá para cima, é visível o forte de São João da Barra, construído por volta de 1670 em frente ao local onde se situava então a barra, para proteger a cidade de Tavira das incursões da pirataria muçulmana, nesse tempo muito frequentes. No entanto, ficou fora de uso devido à deslocação da barra. O forte é propriedade particular, não sendo possível a visita ao interior. De qualquer forma, continuando o nosso caminho em frente atingimos uma zona arborizada por pinheiros, alguns já caídos e mortos, outros a caminho disso, devido ao facto de areia não conseguir sustentar o seu peso.
Temos então, mais à frente, uma zona elevada constituída por uma pequena falésia. Este alcantilado, conhecido pelo nome de formação de Cacela, é uma autêntica arriba fóssil, vestígio de outros tempos em que a ria ainda não existia e as ondas embatiam aqui. Possui bastantes fósseis, principalmente de moluscos univalves, estando a sua idade avaliada perto do milhão de anos.
O mapa seguinte dá uma ideia do percurso, ressalvando o facto de se encontrar desactualizado, datando de há cerca de trinta anos, mas, apesar de tudo, o percurso descrito segue quase exactamente as localizações descritas no mapa.
Os meus agradecimentos ao João Pedro Chagas, que gentilmente cedeu as fotos das chaminés típicas algarvias que ilustram esta página.